quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Vice-Reitor Explica Calendário Letivo (seguido de resposta minha)

Caro Professor Artur Águas,

Agradeço-lhe as mensagens e o interesse nesta questão, bem como a oportunidade para explicitar algumas questões relativas ao calendário escolar aprovado para a Universidade para 2016/2017.

Em primeiro lugar gostaria de o tranquilizar relativamente ao que interpreto serem as suas principais preocupações:
   número de semanas de avaliação – a proposta em causa permite manter exatamente as mesmas 5 semanas que estão nas recomendações em vigor ao longo dos últimos anos, caso optem pelo mínimo também proposto de semanas letivas. Apenas é recomendado que, na medida do possível, se tente deixar alguns dias livres no final desse período para permitir aos docentes concluir as correções e publicações das notas e aos estudantes alguns dias de pausa entre o fim dos exames do primeiro semestre e o início das aulas do segundo semestre. No entanto, nalgumas Faculdades haverá limitações várias que não o permitam fazer e isso está acautelado. Todavia, deveríamos fazer um esforço para reduzir, no futuro, o número de semanas de avaliação, tentando valorizar o trabalho contínuo de estudantes e evitar a concentração dos processos de avaliação nos finais de semestre.

   Autonomia e especificidades das Faculdades – o calendário aprovado mantém a possibilidade de cada Faculdade poder propor um calendário com ligeiras alterações face ao proposto para toda a Universidade. Foi pedido aos Conselhos Pedagógicos que o fizessem durante este mês e que, caso quisessem propor alterações, que as apresentassem e fundamentassem. Embora se compreenda a existência de especificidades, a disparidade de calendários irá certamente penalizar os estudantes que frequentam cursos lecionados por várias Faculdades e os docentes que lecionam em várias Faculdades, criando também um tratamento desigual entre docentes e estudantes duma mesma Universidade. No entanto, se isso for considerado absolutamente necessário por algumas Faculdades, mantém-se essa possibilidade.

   Número de semanas letivas – o número definido é apenas um valor mínimo de 13 semanas. Cada Faculdade poderá propor um valor superior, nomeadamente se isso for feito tendo em vista a adoção de métodos de avaliação ao longo do semestre e diminuindo a carga de avaliação no final do mesmo.

Gostaria de aproveitar para, sucintamente, explicitar o processo que foi seguido. Normalmente, o calendário escolar é aprovado pelo Reitor, após consulta aos Diretores. Este ano, entendeu-se suscitar na Universidade uma reflexão alargada sobre o modelo atual de calendário escolar. Essa reflexão teve por base uma preocupação manifestada por muitos docentes e estudantes acerca do calendário que tem estado a vigorar. O calendário atual tenta seguir de perto as recomendações do CRUP de 2011, segundo as quais cada semestre deverá ter 20 semanas, totalizando 40 semanas para o ano letivo, com um máximo de 10 associadas à avaliação no conjunto dos dois semestres. Até este ano o calendário não tinha em conta outros períodos de trabalho de docentes e estudantes, nomeadamente: o período de preparação do ano letivo (reuniões de curso para coordenação de avaliações, reuniões de pedagógico para fixação de avaliações intercalares), o período de avaliação da época especial, o período de correção e publicação de resultados. O somatório destas várias atividades vem-se traduzindo num calendário escolar muito extenso e que facilmente se estende ao longo de quase 11 meses - entre inícios de Setembro e finais de Julho.

Parecia-nos que esta situação deveria suscitar alguma reflexão, nomeadamente quanto à sua congruência com, por um lado, a afirmação institucional da Universidade do Porto enquanto Universidade de Investigação e, por outro lado, pela valorização da possibilidade dos estudantes terem acesso a experiências de estágios ou de outras experiências formativas que lhes desenvolvam competências sociais e profissionais para além daquelas previstas nos planos curriculares.

Além disso, e muito embora se tenha observado uma crescente valorização institucional de modelos de avaliação distribuída e com maior autonomia no trabalho dos estudantes, existe a percepção generalizada de coexistência de modelos de avaliação muito diferentes (mas sobrepostos), a qual se traduz num excesso de carga de trabalho para docentes e estudantes. Finalmente, o calendário atual acarreta uma frequente sobreposição de atividades, que não nos parece favorecer a qualidade do trabalho realizado (de que são claros exemplos a sobreposição da época especial e das entregas de teses com o arranque do ano letivo e a sobreposição da conclusão da avaliação do primeiro semestre com o início das aulas do segundo semestre).

Sabemos que quaisquer alterações no calendário são complexas, pois envolvem hábitos de trabalho de docentes e estudantes e têm implicações nas condições de funcionamento das atividades letivas e de avaliação. Deste modo, quaisquer alterações teriam que ser precedidas de discussão nas Faculdades e a sua concretização teria de ser feita de forma gradual. Além disso, seria necessário sensibilizar os docentes para uma melhor coordenação dos regimes de avaliação de unidades curriculares do mesmo ano e ciclo de estudos, por forma a evitar a sobreposição de tarefas exigidas aos estudantes.

Em suma, pareceu-nos ser importante refletir sobre a pertinência do atual calendário e discutir possibilidades de ir melhorando a organização dos tempos letivos e de avaliação.

Assim, esta discussão teve os seguintes passos:
   apresentação e discussão na reunião do CCMEUP de Outubro (no qual têm assento representantes de todos os Conselhos Pedagógicos e Científicos de todas as Faculdades, bem como representantes de todas as Associações de Estudantes e o presidente da Comissão de Educação do Conselho Geral);
   Solicitação aos Presidentes dos Conselhos Pedagógicos que promovessem reuniões e consultas nas Faculdades acerca da pertinência e exequibilidade das alterações sugeridas durante o mês de Novembro (nomeadamente ouvindo docentes, estudantes e diretores de curso);
   Informação na reunião de Diretores de Novembro acerca desta consulta, justificando o adiamento da marcação do calendário;
    Discussão na reunião de Novembro do CCMEUP, permitindo a todas as Faculdades e Associações de Estudantes manifestarem as suas posições. Nos casos em que não puderam estar presentes, eu próprio transmiti ao Conselho as opiniões favoráveis e desfavoráveis. Esta discussão levou a várias alterações da proposta inicial, acolhendo várias sugestões pertinentes feitas pelas Faculdades que entenderam tomar posição. Esta nova versão recebeu um parecer favorável do CCMEUP;
   Discussão na reunião de Diretores de Dezembro da proposta revista, a qual recebeu apoio unânime dos mesmos, vários dos quais manifestaram publicamente o seu apoio às alterações introduzidas;
   Informação na reunião do CCMEUP de Dezembro, explicando as alterações que foram introduzidas em virtude da discussão no Conselho e aprovadas pelos Diretores das Faculdades.

Deste modo, procurou-se ouvir de forma alargada e participada os principais interessados neste processo. A proposta aprovada resultou desse processo e teve alterações substanciais em virtude disso. Além disso, foi aprovada porque teve o parecer favorável do CCMEUP e do Conselho de Diretores. Certamente que este é apenas um passo no sentido de melhorar gradualmente a organização dos tempos letivos e de avaliação.

Coloco-me ao dispor do Conselho Geral, nomeadamente da sua Comissão especializada de Educação e Formação, para discutir esta questão, caso assim o entendam.

Saudações cordiais,

Pedro Teixeira

Minha resposta:
Exmo. Senhor Vice Reitor,
Espanta-me a sua ilusão de que eu iria ter tempo (e paciência) para ler, sobre um assunto tão pedestre como o calendário do ano letivo, um texto tão longo como o do seu email. Que perda de tempo ! Bastaria ter aceite a minha sugestão, em vez de gastar o seu tempo a escrever longas epístolas.
Sugeri (mas, pelo vistos, parece não o ter interiorizado) que se aplique o princípio da subsidiariedade: que a Reitoria tenha uma intervenção minimalista na definição do ano letivo, descentralizando a decisão dos detalhes para cada Faculdade.
Pode reler as minhas sugestões no seguinte site:
Sobretudo, não compliquemos a vida aos estudantes, pelo gozo narcísico da "vão glória de mandar".
Cumprimentos,

Artur Águas, professor do ICBAS/UP e membro do Conselho Geral da UP

Sem comentários:

Enviar um comentário