segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Subjetividade Domina Futura Avaliação de Projetos pela FCT?

Na sexta-feira passada foram convocados para reunião em Lisboa com o ministro Manuel Heitor os diretores de Unidades de Investigação para lhes ser apresentada a nova Política de Ciência do governo.
O essencial dessa reunião vem relatado em notícia publicada pelo Público no sábado passado, a qual se pode ler neste “link”:

Dessa notícia retiro seguinte extrato:
“…explica Manuel Heitor. Além da Carta de Princípios de orientação para a FCT divulgada na semana passada, a tutela definiu uma outra “questão crítica” que vai balizar a nova avaliação: a quantidade da produção científica deixará de ter a mesma preponderância, sendo privilegiado o conteúdo do trabalho dos investigadores. O ministro defende que, com esta decisão, se limita a seguir uma “prática internacional”, que tem secundarizado os indicadores bibliométricos em contexto de avaliações de centros de investigação, dando relevância à “análise do conteúdo da investigação pelos pares”, diz, citando como exemplos a Declaração de São Francisco, de 2012, e o Manifesto de Leiden, do ano passado, onde a comunidade científica internacional se mobilizou contra o peso excessivos dos indicadores de publicações científicas.

É para mim muito preocupante ler que a futura avaliação das candidaturas a financiamento de projetos pela FCT será baseada em primeiro lugar no “conteúdo” do trabalho dos investigadores e, só secundariamente, terá em conta os indicadores bibliométricos.
Segundo o ministro serão os pares quem definirão “o conteúdo do trabalho dos investigadores” a avaliar. Mas o que é o “conteúdo”, essa palavra vaga, sendo a publicação (“os indicadores bibliométricos”), que é um dado objetivo e mensurável, “secundarizada” ?

Vamos abrir a porta para, à pala da ”análise de conteúdo”, avaliações subjetivas feitas pelos pares, que estarão autorizados (recomendados?) a minimizar o critério objetivo da publicação científica e da sua qualidade relativa?

Não se correrá o perigo de que haja “conteúdos” de primeira e de segunda, sendo, por exemplo, que de primeira serão apenas os “conteúdos” propostos por cientistas aglutinados nos cada vez maiores Centros, que resultaram da fusão de Laboratórios Associados?
A meu ver a análise bibliométrica, não devendo ser o único critério, não pode ser secundarizada na avaliação das candidaturas a financiamento de projetos científicos à FCT.
Mate-se o “conteúdo” e a subjetividade que está implícita nesta palavra! Toda a decisão que é sujeita sobretudo a critérios subjetivos é lenha que acaba a alimentar as fogueiras com que os lobbies arrecadam os nossos dinheiros públicos.
A investigação científica merece avaliação objetiva da sua qualidade.
O CG da UP tem, a meu ver, como a sociedade em geral, o dever de se pronunciar sobre a nova Política de Ciência apresentada pelo ministro Manuel Heitor.

É assunto que propus para discussão do Conselho Geral da UP na sua próxima reunião (11 de março).

Sem comentários:

Enviar um comentário